Terça-feira, Março 01, 2005

Tudo Vira Bosta

"O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e o não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta

O vinho branco, a cachaça e o chope escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e o meu futuro
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

File minhão, champinhão don perrinhão,
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e o meu tesão
Tudo vira bosta

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondi, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha Eguinha Pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o coitado
Esse governo e o passado
Vá você que eu tô cansado
Tudo vira bosta

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta"

Música de Moacyr Franco & Rita Lee. Clique AQUI para ouvir um trecho da música.

Comentários de Rita Lee, sobre a música:
"Trata-se da tese de mestrado do filósofo Moacyr Franco diante dos mistérios da vida. A síntese é comovente: estudamos para arranjar um bom trabalho, nosso trabalho gera dinheiro, nosso dinheiro compra comida. Com o tempo tudo - o estudo, o trabalho, o dinheiro e a comida - tudo vira bosta."

Comentários de Moacyr Franco Sobre a música:
"Foi assim... Eu tinha em mente um desabafo escatológico como refrão: Tudo vira bosta um dia depois, não me vire as costas salvemos nós dois.

Liguei pro Zé Rodrix:
- Zé, quem é que você acha que teria peito pra gravar esta música?
- Rita Lee. É a cara dela.
- Não Zé, a Rita é muito grande. Eu queria alguém assim... da terceira divisão. Cê não topa?

Desligou.

Liguei de novo:
- Zé, você tem o endereço da Rita Lee?

Ele me passou e mandei a música. Dia 20 de junho, duas da tarde toca o celular:

- Moacyr, é a Rita Lee.
Procuro uma cadeira, tropeço nela, babo. Minha mulher ao lado pensa que é outro derrame, gaguejo:
- Jura?
- A-do-rei!

Refleti alguns segundos, respiro fundo e pergunto com cara de gênio:
- Você gostou?
- Não, adorei. Já gravei. Olha, dei uma mexidinha.

Eu, graças a Deus, não consigo dizer mais nada. Rita diz:
- Alô, alô, alô, caiu. Desliga.

Eu tinha caído mesmo. Estava sentado no chão. Minha mulher traz o calmante e quer saber se eu estou melhor. Claro que eu estava melhor, muito melhor. Eu acabava de gravar com uma das maiores do mundo, eu tinha escrito meu nome na história de Rita Lee. Passei o resto da tarde assobiando Lança Perfume. Dormi como um passarinho.

No outro dia, ego inflado. Eu nunca mais seria o mesmo. Ligo pro Zé Rodrix:
- Zé, cê tem o endereço do Paul McCartney?
"

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