Rosa
Ás vezes, eu penso ter nascido na época errada. Pode parecer que seja um pensamento momentâneo, mas quem me conhece sabe que não é bem assim.
Além do fascínio pelas palavras e origens destas, também tenho adoração pelo passado... Histórias, Músicas, Locais, Perfumes e o que mais possa parecer banal para qualquer mortal.
Afinal, ouvir "Rosa", uma música da década de 30, não é muito "trivial" para qualquer jovem de hoje.
Composta por Pixinguinha, originalmente instrumental, em 1917, "Rosa" foi gravada 20 anos mais tarde na voz de Orlando Silva, com letra de Otávio de Souza, um obscuro mecânico do Meier no Rio de Janeiro. Orlando Silva, considerado o "Cantor das Multidões" e dono de uma das mais belas vozes da história da música brasileira, tem uma história interessante.
Nascido em 1915, no Engenho de Dentro no Rio de Janeiro, Orlando teve que largar os estudos ainda no Primeiro Grau devido as dificuldades financeiras da familia. Foi operário e carregador, mas perdeu o emprego em 1932, após sofrer um grave acidente ao cair de um Bonde em movimento e perder parte do pé. Ficou 4 meses em tratamento a base de Morfina, no Hospital Souza Aguiar, para suportar as dores. Ainda assim, passou grande parte de 1933 em casa, na cama ou de muletas, ouvindo rádio e decorando as modinhas da época.
Assim, foi trabalhar de trocador de ônibus e, como vivia cantando, foi estimulado pelos passageiros a participar de algum Show de Calouros da época. Após algumas reprovações, teve ajuda do compositor Bororó e de Francisco Alves, até então a grande voz da época, para iniciar sua carreira. Então passou a ser conhecido como o "cantor das multidões", alcunha esta dada por Oduvaldo Cozzi impressionado com a capacidade de Orlando em fazer sucesso e atrair multidões e fãs, apesar de ser considerado uma pessoa feia e, ainda por cima, portador de um defeito fisico.
Sua carreira foi meteórica. De 1935 a 1942, Orlando foi o mais perfeito cantor popular brasileiro. Porém, a partir de 1940, algo afetou terrivelmente sua voz. Na época, falavam-se em drogas, bebidas e mulheres, mas estas versões eram vagas e injustas. Até sua morte, em 1978, aos 62 anos, foi impossível apurar a verdade.
Hoje, sabemos que a Morfina foi a grande "vilã" do cantor. No ínicio da década de 40, Orlando teve "Gengivite Ulcerativa Necrosante Aguda", mais conhecida como "Piorréia". O tratamento, na época com poucos recursos, não obteve bons resultados, e acabou expondo a dentina e o nervo de um ou mais dentes. A dor, uma das piores que o ser humano pode suportar, o incomodava demais. Foi aí, que lembrou-se da Morfina que tanto ajudou-lhe na época do acidente com o Bonde e, em desespero, passou a usar a droga. Porém, além de causar dependência, a Morfina também ataca os nervos periféricos, entre os quais os das cordas vocais, explicando assim a decadência da voz de Orlando a partir daquela época.
"Tu és,
Divina e graciosa
Estátua majestosa
Do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida
É preferida pelo beija-flor
Se Deus,
Me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente
De luz
Formada numa tela
Deslumbrante e bela
O Teu coração
Junto ao meu
Lanceado
Pregado e crucificado
Sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu
Tu és
A forma ideal
Estátua magistral
Oh alma perenal
Do meu primeiro amor,
Sublime amor
Tu és
De Deus a soberana flor
Tu és
De Deus a criação
Que em todo coração
Sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes
Cheios de sabor
Em vozes tão dolentes
Como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor
Da santa natureza
Perdão,
Se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor
Meu peito não resiste
Oh meu Deus
O quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar
Em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar,
Aos pés do onipotente
Em preces comoventes
De dor
E receber a unção
Da tua gratidão
Depois de remir
Meus desejos
Em nuvens
De beijos
Hei de envolver-te
Até meu padecer
De todo fenecer"
Clique AQUI para ouvir um trecho da música.
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